Quando se fala em fotopolimerização é importante entender quais características são realmente relevantes em um equipamento. Pensando nisso, convidamos o pesquisador e grande referência no assunto Dr Carlos José Soares e a Dra Stella Braga para prepararem um conteúdo esclarecedor.
Professor Adjunto da UFU. Graduação em Odontologia pela UFU, Especialização em Dentística pela UFU, mestrado em Clínica Odontológica - Área de Dentística pela FOP/UNICAMP e doutorado em Clínica Odontológica - Área de Dentística pela FOP/UNICAMP, Pos-Doutorado na University of Minnesota no desenvolvimento de modelos de elementos finitos em multi-escala. É lider do Grupo de Pesquisa cadastrado no CNPq e referendado pela UFU: Biomecânica Aplicada a Odontologia Restauradora. É consultor do CNPq. Atua como membro de corpo editorial e consultor de diversos periódicos de circulação nacional e internacional. Tem experiência na área de Odontologia, com ênfase em Materiais Odontológicos e Dentística Restauradora, atuando principalmente nos seguintes temas: biomecânica, elementos finitos, ensaios mecânicos, no estudo de contração de polimerização, biomecânica do traumatismo dentoalveolar e retentores intra-radiculares. Fellow da Academy of Dental Materials - ADM. Desenvolve projetos em parceria com pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UNICAMP, Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal de Pelotas e Universidade de São Paulo. Tem recentemente intensificado a parceria com instituições do exterior como Universidade de Iowa - USA , University of Minnesota - USA, Dalhousie University - Canada, KU Leuven - Bélgica, Pusan University - Coreia do Sul e University of Tennessee Health Science Center Dental School - USA.
Cirurgiã-dentista pela Universidade Federal de Uberlândia; Mestre em Clínica Odontológica Integrada pela Universidade Federal de Uberlândia; Doutoranda em Clínica Odontológica Integrada na Universidade Federal de Uberlândia; Esteve em estágio de doutorado no exterior na Dalhousie University.
A fotoativação de resinas compostas, cimentos resinosos, adesivos, selantes e cimentos de ionômero de vidro, é um passo determinante para adequada polimerização dos materiais e para o sucesso das Restaurações. Essa etapa precisa receber maior atenção por parte do clínico (Rueggeberg, 2011; Shortall et al., 2016).
As fontes fotoativadoras LED (diodo emissor de luz), ou aparelhos fotopolimerizadores denominado pelos clínicos, substituem suas antecessoras luzes halógenas de quartzo-tungstênio e arco de plasma. A maioria das fontes LED apresentam espectro de emissão concentrado, em pico único, próximo da absorção pela canforoquinona (450- 470nm). Porém, novas fontes apresentam múltiplos picos, com luz emitida em diferentes comprimentos de onda, os quais podem ativar materiais com fotoiniciadores alternativos, além da canforoquinona. Contudo, elas possuem heterogeneidade do feixe de luz emitido o que pode levar a falso benefício, pela polimerização heterogênea do material e falhas prematuras (Michaud et al., 2014). O comprimento de onda violeta tem limitada penetrabilidade comparado à luz azul resultando em evidentes limitações nas propriedades na base da restauração (Rueggeberg, 2011; Shimokawa et al., 2017).
A irradiância (mW/cm²) é a potência (mW) do aparelho dividida pela área da ponta ativa (cm²). A irradiância recebida pelo material é influenciada pela distância da ponta ativa, a qual pode variar em diferentes regiões da cavidade, bem como, pelo tamanho da ponta, pois quanto menor a ponta ativa maior será concentração da luz em um ponto (Figura 1 e 2) (Shortall et al., 2016). Essa estratégia é uma tendência muito enganosa que as fontes de baixo custo têm gerado na odontologia. Elas ampliam a difusão do conceito exclusivamente de “irradiância” para aumentar o potencial de vendas de fontes de luzes que possuem ponta ativa de 7,0 a 7.5 mm. Com isso a irradiância é aumentada artificialmente!
Figura 1. Imagens 3D das fontes fotoativadoras Elipar DeepCure-L (3M ESPE) e fonte fotoativadora B presentes no mercado brasileiro ambas em mesma escala no software BeamGage (Spiricon Ophir Photonics). A- Elipar DeepCure-L apresenta homogeneidade no perfil do feixe em toda a ponta ativa enquanto, B- a fonte B apresenta perfil do feixe heterogêneo com concentração da potência em apenas um ponto.
Figura 2.Imagem 2D do perfil do feixe do Elipar DeepCure-L (8,8 mm de ponta ativa) sobre segundo molar inferior (12 mm de distância mésio-distal).
Alguns tópicos devem ser destacados com relação aos cuidados que devem ser tomados na fotoativação. O operador deve posicionar a cabeça do paciente de forma a facilitar o acesso à região a ser fotoativada (Bhatt et al., 2015). É recomendada a utilização de óculos laranjas ou filtros acoplados na fonte de luz para proteção dos olhos, pois essas fontes podem causar danos a retina a longo prazo, quando manuseadas sem proteção aos olhos (Price et al., 2016; Soares et al., 2017a). Assim, o operador pode focar a visão na região de trabalho. A fonte de luz deve ser protegida com fina barreira plástica para evitar contaminação cruzada. Quando se usa película plástica fina e bem adaptada (película de PVC) não há interferência na emissão do feixe de luz (Figura 3A). A fonte deve ser posicionada perpendicular ao material restaurador e sua ponta ativa e mantida estática durante toda a exposição à luz (Figura 3B) (Soares et al., 2017b).
Figura 3.Elipar DeepCure-L (3M ESPE). A- Elipar DeepCure-L com barreira plástica para proteção contra contaminação. B- Ponta ativa de fonte fotoativadora Elipar DeepCure-L centralizada na oclusal do segundo molar inferior de manequim com abertura bucal média de adulto.
Algumas fontes com design de grande angulação podem comprometer o correto posicionamento da ponta em dentes posteriores devido e limitação de abertura interincisal o que pode comprometer a fotoativação (Soares et al., 2017b), formando ângulos entre a ponta e restauração que geram áreas de baixa irradiância, como a caixa proximal de cavidades Classe II (Michaud et al., 2014; Soares et al., 2017b). Mais de uma fotoativação (fotoativações complementares por vestibular e lingual) pode ser necessária para que toda a restauração receba energia adequada (Shimokawa et al., 2016). Essa recomendação é especialmente importante na fotoativação de resinas bulk fill ou na cimentação de coroas e laminados cerâmicos (Shimokawa et al., 2016; Soares et al., 2017b).
A fim de manter a alta potência dos equipamentos, alguns fabricantes reduzem a ponta ativa destas fontes (Soares et al., 2019). Cabe então aos fabricantes oferecerem informações sobre seus equipamentos como potência, irradiância, efeito da distância, espectro de emissão, perfil do feixe em toda a ponta, informações estas que devem ser levadas em consideração pelo cirurgião-dentista ao escolher seu equipamento. Aos cirurgiões-dentistas cabe, também, acompanhar periodicamente o desempenho de seus equipamentos pela medição de potência utilizando radiômetros de mão em seus consultórios.